Mangue
Seco é a ponta de uma península que pertence ao município de Jandaíra,
Bahia, no extremo norte do litoral baiano, a 250 km de Salvador. E que
está isolado de sua prefeitura, tanto pelo estuário do Rio Real, como
pela falta de ligação terrestre com a sede administrativa, e, por isto,
se relaciona muito mais com Estância, em Sergipe, berço da família
Amado. Assistência médica, formação profissional e gêneros de todo tipo,
vem daí. Mangue Seco recebe muito mais turistas de Sergipe que da
Bahia!
A
primeira tentativa de facilitar o acesso de turistas provenientes de
Salvador aconteceu na década de 1990, com a construção da Linha Verde
que, entretanto, passou a 30 km do povoado, ficando a ligação entre
Costa Azul - também pertencente a Jandaíra - e Mangue Seco, para a
posteridade. Porém, mais de 20 anos depois, quem sai de Salvador para a
famosa praia continua dependendo de Sergipe, pois a estrada começou a
ser construída, mas a obra está parada. E pior, a prefeitura impôs
medidas que prejudicaram os principais atrativos e tornaram a visita ao
lugar caótica, frustrante e desaconselhável.
Quem
vai a Mangue Seco quer passear de buggy nas dunas, ver a igreja, e a
casa onde filmaram cenas da novela e do filme, mantida da mesma maneira
por dona Flora, prima de segundo grau do escritor Jorge Amado. O povoado
sempre recebeu veranistas no fim de semana, mesmo antes da novela, mas
isto aumentou inegavelmente, inclusive durante a semana. Porém, o
turismo profissional de agências e operadoras de turismo dispostas a
investir no lugar é o que garante turistas, trabalho, renda, impostos e
benefícios para todos. O ano inteiro, já que não há outra atividade!
Mas
a prefeitura de Jandaíra resolveu interferir e participar do negócio, e
de maneira atabalhoada. O prefeito Roberto Leite foi reeleito em 2012, e
seu sobrinho, Adilson Leite, ex bugueiro, foi eleito vereador nesse
pleito. Esta gestão começou a construção de um muro, ou quebra mar -
também passarela, e com porto - na frente do povoado voltada para o
estuário, e onde todas as pessoas desembarcam. Para isto proibiu
atracadouros particulares, e a circulação de buggy na praça principal,
onde estão a casa e a igreja. Porém, a medida mais arbitrária,
inconstitucional, e lesiva ao Turismo, foi a proibição de negócios entre
proprietários de buggies de Mangue Seco e agências de turismo.
É
isto mesmo que você leu: a prefeitura de Jandaíra proíbe a iniciativa
privada de fazer parceria em Mangue Seco. Ela criou uma cooperativa de
bugueiros e obrigou os proprietários a fazer parte dela, se quiser
trabalhar, arbitrando taxa de inscrição e pagamento de R$ 5,00 por
passeio. São cerca de 60 buggies que fazem uma média de 4 passeios por
dia, o que equivale a R$ 36 mil mensais. O pretexto do pagamento é
aprimorar as instalações da cooperativa que até a presente data não tem
banheiro para os turistas que desembarcam em Mangue Seco na lama do
estuário, por falta de porto.
Alguns
agentes de viagem pensaram ser boa a iniciativa, porque encontravam
buggies á vontade na baixa temporada, mesmo em estado precário, sem
oferecer apoio aos profissionais de turismo, sem garantias de
substituição em caso de pane, e sem aceitar cartão de crédito, como é
normal na atividade turística. Estes deveriam levar seus turistas agora,
na alta temporada, e submetê-los a espera de mais de uma hora sob o sol
e a ira de particulares descontentes porque guias de turismo contratam
10 ou mais buggies de uma vez. E ainda ter que mandar seus turistas
pouco a pouco, sozinhos, sem guia, porque não se pode reservar. Nem os
membros da cooperativa estão satisfeitos!
Mangue
Seco tinha dois locais para contratar buggies, e proprietários podiam
atender qualquer pessoa ou agência quando procurados, como é normal em
turismo. Porém, um único grupo dava apoio integral ao turismo, inclusive
disponibilizando cais, banheiros e carros para inspeção de agências –
que a cooperativa não dá! - era o grupo Asa Branca, que foi obrigado a
dividir seus clientes com os cooperativados. O Ministério do Turismo
precisa interferir nessa situação e colocar ordem no turismo de um dos
legados de Jorge Amado, Mangue Seco, além de garantir a livre iniciativa
e a geração de emprego e renda para todos. E que este caso sirva de
alerta para o que acontece em outras localidades turísticas do Brasil!
Fonte; José Queiroz